Espaços de trabalho descontraídos, salas de estar comuns que promovem conversas e encontros entre pessoas e negócios, vários eventos por semana, são conceitos que a pandemia colocou em pausa. Mas para Miguel Rodrigues, promotores do LACS, fazem cada vez mais parte do futuro do trabalho. Artigo publicado no LACS@The Next Big Idea – Futuro do Trabalho – […]
Teletrabalho: um desafio ou um sonho tornado realidade?
Há algum tempo, trabalhar em casa era apenas um sonho para muitos, talvez pela ideia de liberdade e de flexibilidade que isso representaria. Contudo, quando a pandemia transformou esse sonho em realidade, deu-se conta que, na prática, o teletrabalho pode ser mais um desafio de que um cenário de vida perfeito.
A exigência do dia-a-dia de trabalho transitou para a casa sem ajustes e sem tanta flexibilidade assim. As reuniões passaram a ser via Zoom, Teams e tantas outras plataformas que surgiram, umas atrás das outras, os dias começam muito cedo e acabam muito tarde. Um cenário que caiu de paraquedas na nossa casa, que é palco de tudo neste momento e nunca isento de outras distrações e… mais trabalho.
Neste sentido, como é que nos vamos motivar e ser igualmente produtivos nesta esta nova realidade que, com ou sem pandemia, eu acredito que veio para ficar?
Da minha parte, posso dizer que o teletrabalho é algo a que tive de me habituar desde que me despedi em 2015 e, desde então, o esforço para me adaptar é diário: uns dias melhores, outros nem tanto. Contudo, há algo que eu tenho a certeza: um dia de teletrabalho não é igual a um dia “no escritório”. Comparar as duas realidades é logo um erro de base!
Ainda assim, e imbuída do lema “sê a melhor versão de ti mesma”, leio, pesquiso, observo sobre as estratégias, as dicas e os truques sobre esta gestão pessoal, organização e produtividade. Há muitos coachs nesta área e seria simples se partilhasse aqui mais uma lista com os truques infalíveis que te vão fazer vencer no teletrabalho.
Esta é a parte simples, o desafio está em perceber o que funciona com cada um de nós – porque não temos todos o mesmo background, a mesma personalidade e as mesmas fraquezas.
Por exemplo, eu tenho tendência a procrastinar, não lido bem com a desarrumação geral à minha volta, preciso de um ritual diário e tudo o que venha alterar isso, destabiliza a minha concentração e capacidade de trabalhar e consigo perder muito tempo em tarefas pequenas porque preciso da tal organização para passar ao que é verdadeiramente importante.
Trabalho todos os dias para me disciplinar e organizar mentalmente, aprendi a fazer listas de tarefas cada vez mais concisas, reais e adaptadas às variações da minha disponibilidade em cada dia. Faço por cumprir o meu ritual matinal, que embora não se defina como meditação, é um momento em que esvazio a cabeça e que me foco a minha atenção no momento presente, em silêncio e com o meu café antes do dia começar. Incluo tempo para mim todos os dias e aí o exercício físico tem uma dupla vantagem física e mentalmente. Tenho horários ou períodos do dia específicos para dedicar às tarefas de casa e sei perfeitamente quando é que o meu dia de trabalho deve terminar. Por fim, e não menos importante: aprendi a dizer não e a não me comparar com outra pessoa.
No fundo, talvez o segredo seja mesmo esse: o de conhecermos as nossas fraquezas, pois só assim saberemos que ferramentas necessitamos para nos motivarmos, reinventar, sem nunca subestimar o poder da mente. Uma mente calma, limpa e focada é essencial para vermos as coisas com mais clareza e objectividade. No fundo, para olharmos para o copo meio-cheio!
Ainda assim, há boas notícias, muito mais simples de concretizar e sem a complexidade a que o autoconhecimento nos obriga. Ter um espaço próprio de trabalho que permita fazer a separação entre a vida de casa e familiar e a do trabalho, evitando espaços comuns como a mesa de refeições ou o sofá, é um excelente ponto de partida. E de preferência com acesso a luz natural e onde te sintas inspirado. Depois, uma cadeira apropriada e, para alguns, uma lista inspiradora no Spotify para ajudar à concentração, uma vela de cheiro para dar ambiente e – felizmente para aqueles que não têm filhos – sem barulho de fundo.
Fazer pausas para as refeições – que já estejam pré-preparadas – levantar para tomar um café ou chá, ir buscar um snack são coisas importantes – mas com limites e não a cada cinco minutos.
Portanto, o teletrabalho é quase com um exercício que nos obriga a aprender a priorizar rotinas, tarefas e, acima de tudo, a nossa mente. Desengana-te se achas que consegues fazer tudo da mesma maneira, porque não vais conseguir! No teletrabalho alguma fica por fazer, a não ser que uses a tua boa capacidade de ser realista na hora de escreveres a lista de tarefas.
Uma pessoa organizada é uma pessoa produtiva. A questão é o que é tu tens de organizar em primeiro lugar e de que forma e isso deixo para reflectires.
Por Vera Dias Pinheiro